27 DE MARÇO
- A DEVOÇÃO A SÃO JOSÉ NA IGREJA -
1.° - NOS PRIMEIROS SÉCULOS
Alguns escritores dizem ter sido o
culto de São José completamente ignorado e desconhecido nos primeiros séculos
da era cristã. Entretanto, o estudo da tradição, dos hagiógrafos e até mesmo a
Arqueologia, e sobretudo os Comentários do Evangelho daqueles tempos, tudo isso
nos vem demonstrar à saciedade quanto era conhecido, louvado, admirado e
invocado, nos dias primeiros da nossa fé, o Pai Putativo de Jesus e casto
Esposo de Maria.
A Liturgia, é verdade, não lhe prestava
um culto especial, porque a Igreja, naqueles dias de perseguição e de martírio,
só se preocupava com as glórias e os cultos dos mártires. Não foram poucos os
confessores e grandes santos que só alguns séculos mais tarde tiveram culto e
se tornaram conhecidos, embora tivessem vivido e feito prodígios na época dos
mártires.
Esta é a razão da ausência do culto
público especial a São José, nos primeiros séculos.
Todavia não podemos afirmar, como
alguns autores, ter sido São José completamente desconhecido e esquecido.
O ilustrado autor josefino Pe. Antônio
Diaz, em sua obra magistral ‘El Patronato Universal de San José’, nos demonstra
com erudição invulgar como já na era das catacumbas o Santo Esposo de Maria
fora conhecido e louvado pelos primeiros cristãos.
Um arqueólogo, Perret, encontra nas
catacumbas três documentos referentes a São José. O primeiro é uma pintura nas
catacumbas de Santa Priscila, representando Jesus, Maria e José; o segundo, um
medalhão, do primeiro século provavelmente, no qual figuram Maria com o Menino
Jesus nos braços e São José a contemplá-lo, extático.
Finalmente, uma terceira pintura de
cena do encontro de Jesus no templo, e claramente ali se vê o Santo Patriarca
ao lado de Maria. No medalhão de um sarcófago do século IV de Cartago, Lucat
reconhece uma das figuras: São José.
Nos IV e V séculos, em mosaicos, em
sarcófagos, em pinturas e relevos, se encontram não poucas cenas do Evangelho
com a figura de São José bem destacada.
E dali por diante os documentos já não
são tão escassos, e há provas bem claras do culto de São José nos primeiros séculos.
E os escritores sagrados?
São Justino, no século II, defende a
virgindade de Maria e a de São José.
Orígenes e Santo Atanásio são campeões
na defesa desta prerrogativa Josefina contra os hereges.
São João Crisóstomo em suas homilias
canta as virtudes de São José, chamando-o de “o varão perfeito, humilíssimo
santo, fidelíssimo e adornado de toda santidade”.
Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo
Agostinho celebram com eloquência a pureza de São José.
São João Damasceno, São Pascásio
Radberto, São Máximo de Turim e outros até São Bernardo, tecem panegíricos
admiráveis de São José. Não foi desconhecido o Pai Putativo de Jesus e Esposo
de Maria nos primeiros séculos.
A tradição nos diz que no século II os
gregos tributavam culto a São José, cuja festa se celebrava no Calendário Copta
em 10 de Julho.
No século IV a imperatriz Santa Helena,
mãe de Constantino, mandou construir uma capela a São José, no lugar do Santo
Presépio de Belém. Foi o primeiro templo a São José.
2.° - NOS ÚLTIMOS TEMPOS
Antes do esplendor do culto josefino,
através dos séculos, São José foi sempre invocado e teve lugar especial na
devoção da cristandade.
Os Menológios e Martirológios das
diversas igrejas faziam, não raro, menção de São José e da sua festa.
O século V guarda uma grande veneração
pelas tradições dos lugares sagrados de Helióplis, no Egito, onde consta ter
estado Jesus com Maria e José, na fuga da perseguição de Herodes.
O nome de São José entrou no
Martirológio Romano no século VIII. No século IX celebrava-se a festa do Santo
Patriarca no dia seguinte ao Natal, em 26 de Dezembro. Depois, passou a ser
celebrada em 19 de Março.
No século XV, algumas almas
privilegiadas recebem de Deus a missão especial de propagar e tornar conhecido
e amado o Santo Patriarca. Tais são o Beato Herman, Santa Margarida de Cortona,
Santa Brígida e Santa Gertrudes.
Estas foram, pelos seus escritos e
revelações admiráveis que receberam do céu, grandes propagandistas e fervorosos
apóstolos do culto de São José.
No século XV surge o grande apóstolo
que dá início à época áurea do culto josefino: Gerson, o célebre chanceler da
Universidade de Paris. No Concílio de Constança, ante uma assembleia venerável
de bispos, pronuncia ele o célebre discurso sobre as glórias e o poder de São
José. Falou com eloquência dos privilégios do Santo Patriarca. Expôs, pela
primeira vez, a opinião da santificação de São José no seio materno. Pediu
fosse declarado o santo como Patrono da Igreja Universal. Manifestou o desejo
de que fosse celebrada uma festa em honra dos Desposórios de São José com
Maria. Esse discurso deixou nos padres do Concílio a mais grata impressão e
começa daí o culto mais fervoroso e universal de São José.
São Vicente Ferrer, Dominicano, morto
em 1419, e sobremaneira os dois filhos de São Francisco, São Bernardino de Sena
e São Bernardino de Bustis, concorrem para o esplendor do culto josefino no
século XV. Foram ardentes propagandistas das glórias do Santo Esposo de Maria.
Santa Teresa d’Ávila! O século XVI foi
o triunfo e esplendor do culto do grande santo. A figura excelsa e única de
Santa Teresa, só ela concorreu mais para a glorificação de São José que muitos
outros santos e teólogos. Não se pode falar da história do culto de São José
sem destacar, de modo singular, a Matriarca do Carmelo. Tucot, tratando da
atividade empregada pela santa em difundir o culto do santo, assim se exprime:
“São José deve, de certo modo, a Santa Teresa a glória que hoje tem no mundo”.
O mesmo afirma o sábio Pontífice Bento XIV.
Desde a sua entrada no Convento
d’Ávila, Santa Teresa leva consigo a imagem de São José e quer que todos o
honrem. Escreve e propaga com ardor o culto josefino. Em sua autobiografia, a
santa manifesta ardente amor ao Esposo de Maria. Aponta-o como mestre da vida
interior e advogado poderoso em todas as necessidades. Nunca recorri a São
José”, diz ela, “que não fosse atendida.
Deu o nome de São José ao primeiro
convento da Reforma Carmelitana. Queria o nome de São José em todos os
mosteiros fundados por ela.
É maravilhoso, escreve a santa
Matriarca, é extraordinário o que acontece comigo: todas as graças de que Deus
me cumula tanto para a alma como para o corpo, os perigos de que me tem
livrado, tudo devo ao ter invocado a proteção de São José, aos méritos do meu
amado Patrono.
Treze fundações tiveram o nome de São
José. E após a morte da santa, por ocasião da sua beatificação, em 1614,
mudaram o nome de São José pelo de Santa Teresa, em todos os mosteiros, em
homenagem à nova Beata. A Santa apareceu à Venerável Madre Isabel de São
domingos e lhe disse com tristeza: “Diga ao Padre Provincial que tire meu nome
dos mosteiros e lhes restitua o nome de São José, que possuíam antes”.
Não há dúvida, o exemplo, os escritos e
o zelo de Santa Teresa marcaram uma nova era, um novo período na propagação e
esplendor do culto de São José. É bem verdade o que diz o esplendor atual do
seu culto à grande Santa Teresa.
Agora o culto do Santo Patriarca vai de
triunfo em triunfo, em cada século. Sobremaneira, do século de Santa Teresa aos
nossos dias. No século XVII, Papas e reis, bispados e nações escolhem São José
como Patrono. Surgem Congregações religiosas sob a proteção e invocação do
santo.
São Vicente de Paulo e São Francisco de
Sales propagam o culto de São José. O Papa Gregório XV declara obrigatória em
toda a Igreja a festa do santo. Clemente XI, em 1714, compõe um ofício especial
de São José. Bento XIII, em 1725, inclui o nome de São José nas Ladainhas de
Todos os Santos. Surge nesta época a prática do Mês de São José, na Itália, e
depois se propaga em todo o mundo.
Santo Afonso de Ligório pode escrever
em pleno século XVIII: “Graças a Deus, não há hoje cristão no mundo que não
tenha devoção a São José”. E quanto não concorreu o grande Doutor para propagar
esta devoção! Introduz a prática da visita a São José.
O século XIX foi o triunfo do culto
josefino. Já em 1809 é pedida a Pio VII a proclamação do Patrocínio de São José
sobre a Igreja. Gregório XVI introduz essa festa em algumas dioceses. Pio IX,
em 1847, a estende a toda a Igreja e proclama o Patrocínio Universal de São
José sobre toda a Igreja católica em 1870.
Leão XII sobe ao trono de Pedro com não
menor devoção a São José que os seus predecessores. Aprova o escapulário de São
José. Eleva a festa do santo a rito de primeira classe. Em 15 de Agosto de 1889
publica a célebre encíclica “Quamquam pluries”. Acrescenta às ladainhas da
Virgem, no mês de Outubro, a oração de São José.
Finalmente, neste século XX, Pio X e
Bento XV declaram dia santo de guarda a Festa de São José e dão inúmeras provas
de ardente devoção ao santo. Aprovam e abençoam e se inscrevem na Pia União do
Trânsito de São José, pelos agonizantes; enriquecem de indulgências muitas
práticas de devoção Josefina.
Não faltaram provas do amor a São José
no imortal Pontífice Pio XI. E o atual Soberano Pontífice tem confirmado e
incentivado o culto josefino, como o fizeram seus predecessores.
Hoje, o culto a São José, graças a
Deus, está no seu esplendor e tende a crescer cada vez mais.
EXEMPLO
- São José e a protestante -
Uma senhora protestante – conta Millot
no seu “Tresor d'histoires” – tinha um filho convertido à Igreja católica e que
em vão procurava convencer a mãe a que abraçasse a verdadeira fé.
- Meu filho, dizia ela, eu permiti que
abraçasses a religião católica e dei liberdade a todos em minha casa, em
matéria religiosa. Não discutamos. É inútil querer me afastar do
protestantismo.
O pobre moço, profundamente magoado,
calou-se. Que fazer? Recorreu a São José. Desde que se convertera, o Santo
Patriarca era objeto de sua devoção mais terna. Tinha confiança em São José. No
aniversário natalício da mãe, quis lhe oferecer um presente.
Procurou uma linda e artística imagem
de São José.
- Mamãe, quero lhe oferecer o meu mais
rico presente: esta imagem de São José. Aceite-a como prova de meu amor filial.
Basta que me dê a alegria de aceitá-la e guardá-la.
Ao pronunciar essas palavras, a voz do
moço tinha a expressão de uma grande ternura.
- Meu filho querido, sim, eu guardarei
carinhosamente o teu presente de hoje. Esta bela estátua não sairá mais do meu
quarto.
Foi um raio de esperança na alma do
pobre moço. Beijou a mãe estremecida e se retirou comovido, para ocultar as
lágrimas.
A imagem de São José causava uma
impressão misteriosa na protestante. Era levada a invocar São José. Parecia-lhe
já bem racional o culto dos santos. Poucos meses depois, caiu enferma e o seu
estado se agravou. Mandou chamar o filho ausente. Ao avistá-lo, exclamou:
- Meu filho querido, quero te dar uma
boa notícia, que há de alegrar muito a tua alma: estou resolvida a abraçar a
religião católica! Devo esta graça a São José. Esta imagem me converteu. Sinto,
percebo claramente que estou no erro. Quero morrer na verdadeira religião.
O filho emudeceu, comovido, e não pode
conter as lágrimas. Caiu de joelhos diante de São José:
- Ó meu São José, eu vos agradeço! Que
feliz inspiração a de oferecer a vossa imagem à minha mãe! Grande santo, eu vos
agradeço mil e mil vezes!
A doente pouco depois abjurava o
protestantismo e recebia os sacramentos, com admiráveis disposições de fé e
edificante piedade.
Morreu como uma predestinada, a olhar e
beijar a imagem do seu querido protetor São José.
Nenhum comentário:
Postar um comentário