- SÃO JOSÉ EM BELÉM -
O PRESÉPIO
José e Maria, obrigados pela lei do recenseamento despoticamente ordenado pelo governador Romano, partem para Belém. Deixam a casa humilde de Nazaré e viajam, naqueles dias de rigoroso inverno, desprovidos de recursos. O edito de César Augusto obriga a pobre família a procurar sua cidade de origem. Ali estava o insondável desígnio da Providência. As profecias iam ser cumpridas. Na cidade, ninguém os recebe. Não há lugar para Maria e José nas hospedarias. Desprezados, a tiritar de frio, famintos naquela fria noite, procuravam um abrigo em pobre e miserável gruta, uma estrebaria de inverno para os animais. E era chegada a hora do nascimento do Salvador, o Esperado das nações!
Ouçamos o Evangelho: “E aconteceu naqueles dias que saiu um edito de César Augusto para se recensear todo o mundo. Este primeiro recenseamento foi feito por Quirino, governador da Síria. E todos iam inscrever-se cada um na cidade. E também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, cidade de Davi, que se chamava Belém porque era da cada da família de Davi, para se inscrever com sua Esposa Maria que estava grávida, mas aconteceu que quando estavam ali se completaram os dias de dar a luz, e deu à luz o seu filho primogênito e o envolveu em panos, e o reclinou em uma manjedoura, porque não havia lugar na hospedaria” (Luc. II – 2 a 7).
Qual não foi a amargura de São José ao ver sua Castíssima Esposa dar à luz ao Filho Unigênito de Deus, numa estrebaria! Porém, ó que doce consolação! Veio ao mundo o Salvador e as profecias se cumpriram. José foi testemunha do mistério adorável. Nasceu Jesus miraculosamente. Os primeiros adoradores do Verbo Encarnado foram Maria e José. Os primeiros atos de amor e de devoção ao Menino Jesus partiram dos corações e dos lábios da Virgem Pura e de seu Castíssimo Esposo. Imaginemos a alegria de São José! Com que ternura recebeu nos braços a Criança Divina e A beijou respeitoso, humilde e cheio de ternura! – Eu Vos adoro, ó meu Senhor, que Vos dignastes escolher-me para vosso Pai Adotivo! diria São José, banhado em lágrimas de amor e de agradecimento.
Os Anjos cantaram: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens de boa vontade!
A noite resplandecia em estrelas mais belas e mais luminosas que as de todas as noites. Nasceu Jesus! Nasceu de Maria e foi entregue a São José. Ali, no presépio, o Pai Eterno confiou a outro Pai seu Filho Unigênito.
Escreve Santo Atanásio: O estábulo em que nasceu Jesus era como que o berço da Igreja. O presépio era o Altar, José o Sacerdote, os pastores os fiéis, Pontífice o Pai Eterno. Quem poderia dizer com que respeito, com que devoção José toma entre as mãos a Jesus e o oferece em meio de mil bênçãos ao Pai Eterno, pela salvação do mundo! (‘In descriptione Mariae e Joseph’).
NA CIRCUNCISÃO
O perfume de São José na Igreja, escreve o Pe. Faber, se torna sensível cada vez mais. Enche as imediações de Nazaré, de Belém e do Egito, mas não chega até as alturas estéreis do Calvário. São José é a erva olorosa que cresce à sombra de todos os mistérios da infância de Jesus, é o perfume de Belém. Só Deus pode saber os sentimentos que inundaram o coração de José junto ao berço do Filho de Deus. Acolhe nos braços seu Filho Adotivo, aquece-lhe o corpozinho a tiritar de frio, torna-se o Anjo protetor e o guarda amantíssimo da sagrada Humanidade do Salvador. Assim como o Espírito Santo, diz Cartagena, foi o Pedagogo de Cristo, assim São José foi o pedagogo e como que o educador da infância de Jesus, levando-O, guiando-O onde quer que fosse (‘De fuga Christi Domini’ – Lib. IX hom. 7).
Oito dias depois do nascimento, ordenava a Lei Mosaica fosse apresentado todo o menino para a dolorosa cerimônia da circuncisão. Cristo Nosso Senhor não estava sujeito a essa Lei. Quis, no entanto, sujeitar-se às prescrições da Lei Mosaica para nos dar exemplo de obediência e de humildade. Diz Santo Tomás que Jesus, ao se submeter à lei da circuncisão, demonstrava possuir um corpo real e humano, e não fantástico e aparente, como disseram alguns hereges. Diz o Evangelho: E, completados os oito dias, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o Anjo antes que fosse concebido no ventre de sua Mãe (Luc. II – 21).
São Lucas não diz explicitamente quem foi o ministro da circuncisão de Jesus, mas a opinião comum crê que foi São José, guiando-se por uma tradição antiga que atribuía esse direito aos pais de família. Suarez afirma ter sido também o Santo Patriarca o ministro da cerimônia. Deveria ser doloroso a José cumprir essa lei, que importava em efusão do sangue do Redentor.
O mesmo que se faz hoje no batismo, na circuncisão se dava o nome à criança. A São José coube a honra de dar o nome Santíssimo ao Divino Redentor. O Anjo disse ao Santo Patriarca: Maria dará à luz um filho e lhe darás o nome de Jesus (Math. I – 21). E isto se cumpriu porque acrescenta São Mateus: Fez José como o anjo lhe havia encarregado e ... lhe pôs o nome de Jesus (Math. I – 24,25).
A José devemos o nome Santíssimo de Jesus: Deus por Sua vontade, o anjo transmitindo esta vontade, Maria dando a ordem e José executando-a (‘Summa de donis Sancti Joseph’ - P. II, cap. XI).
Impor um nome é sinal de domínio. Este domínio exerceu-o Adão no paraíso, impondo os nomes aos seres criados. Santo Agostinho reconhece no ato de impor o nome de Jesus, um ato de autoridade paterna.
Eis a sublime missão de São José, neste adorável mistério da infância de Jesus.
EXEMPLO
Uma bela morte
Numa paróquia da Diocese de Lyon, na França, ficou sempre lembrado o exemplo edificante de um grande devoto de São José. Na idade de 86 anos, em 1859, faleceu este bom velhinho, como um predestinado. Devotíssimo de São José. Todos os dias pedia ao santo uma graça: a de uma santa morte. Recitava, nessa intenção, fervorosas orações de manhã e à noite. Todas as quartas-feiras jejuava e dava esmolas aos pobres em honra de São José, para alcançar a graça da perseverança final. A festa de 19 de Março, cada ano, era o seu encanto. Com que piedade a celebrava! Durante cinquenta anos, jamais deixou um só dia de pedir a São José a graça de uma boa morte.
Em 15 de Março de 1859 caiu gravemente enfermo. Pediu e recebeu, com muita fé, os últimos sacramentos. Comoveu a toda a família a piedade do bom velhinho. Disse então: “Na festa de São José, dia 19, mandem celebrar uma missa por minha intenção e quero que rezem aqui as orações dos agonizantes, enquanto se celebrar a missa na matriz”.
Á hora da consagração os sinos deram o sinal na torre e o velho levantou os olhos para o alto, cruzou os braços sobre o peito, em forma de cruz, e pronunciou distintamente: Jesus! Maria! Meu São José! E expirou docemente, sem contração da face, como se dormisse. Morria no instante do “Memento dos mortos”.
Era a recompensa dos cinquenta anos de oração perseverante a São José, pedindo uma boa morte.
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