- A MORTE DE SÃO JOSÉ -
1.° - QUANDO E ONDE MORREU?
São perguntas inevitáveis de nossa curiosidade de servos e devotos fervorosos do Santo Patriarca.
Os estudos hoje bem aprofundados de teólogos e historiadores, já nos dão algumas luzes sobre aquilo de que não se encontra uma só palavra nos Evangelhos e nos Livros Sagrados.
Realmente, nada se encontra na Escritura e em nenhum dos escritos dos Doutores que nos fale da morte de São José e das circunstâncias que a acompanharam. Havemos de recorrer a prováveis conjeturas e recolher as opiniões mais conformes à Escritura e à razão.
Este é o método de todos os teólogos e autores josefinos, entre eles o célebre Isidoro de Isolanis.
Os autores não estão de acordo. Santo Epifânio diz ter sido mais ou menos depois que Jesus completou os doze anos. E a razão que dá é a do silêncio do Evangelho sobre São José, depois do encontro de Jesus no Templo.
Outros dizem ter morrido durante a vida pública de Jesus, e o provam com as palavras de São Mateus: “Não é ele o Filho do carpinteiro?”.
Uma terceira opinião, atribuída a São João Crisóstomo, é a que São José vivia no tempo da Paixão de Cristo e esteve aos pés da cruz.
A opinião finalmente mais aceita, provável e racional admitida pela maioria dos autores, como São Jerônimo, São Bernardino de Sena, São Boaventura, Gerson, Suarez e outros, é que o Santo Esposo de Maria morreu depois do batismo de Jesus e antes das bodas de Caná, nos primeiros dias da vida pública do Salvador.
Examinemos cada uma dessas opiniões.
Não há fundamento para se aceitar a opinião de Santo Epifânio. A missão de São José era ser o guarda e nutrício do Verbo Encarnado, fidelíssimo esposo de Maria e seu amparo. Se tivesse morrido quando Jesus contava apenas doze anos, como poderia ter realizado os desígnios de Deus e a sua missão?
Que São José tivesse vivido durante a vida pública de Jesus, também não encontramos fundamento no Evangelho. Por que não aparece nas bodas de Caná? Se Jesus lá estava com Maria, sua Mãe, por que o Esposo Santíssimo da Virgem não havia de ser convidado?
Os judeus disseram, certa vez, a Jesus: “Eis que tua Mãe e teus irmãos te aguardam lá fora”... Por que não se referem a São José? Este absoluto silêncio dos Evangelistas, que tantas vezes se referiram a José na infância de Jesus, não é significativo? Não prova que teria já morrido o Pai Putativo do Salvador?
O chamarem a Jesus Filho do Carpinteiro quando Ele pregava e fazia prodígios, só prova o costume dos judeus de chamarem os filhos citando o nome ou o ofício dos pais, fossem estes vivos ou mortos.
A opinião atribuída a São João Crisóstomo de que José vivia no tempo da Paixão, é rejeitada pela maioria dos autores. E o maior argumento contra ela é o de ter Jesus entregue sua Mãe aos cuidados de João Evangelista no Calvário. Pois se o Esposo virginal de Maria fosse vivo, não era justo fosse recomendada a ele a Mãe de Deus?
Exatamente porque Maria havia de ficar no mundo viúva e sem o Filho querido, fora entregue a João, o discípulo amado. Não há dúvida, pois: a mais racional opinião é a da morte de São José pouco antes da vida pública de Jesus e depois do batismo no Jordão.
Estava cumprida a sua missão de Esposo de Maria, velarium sagrado do Mistério da Encarnação, sombra do Pai Eterno, sustentáculo e amparo de Jesus. “Esta é a sentença que subscrevo e sustento”, diz e o prova o mais erudito e profundo autor e teólogo josefino, o Cardeal Vives y Tuto, em sua obra monumental ‘Summa Josephina’.
Em Nazaré, na casa bendita onde sofreu e trabalhou para sustentar o Verbo feito Carne e a Mãe de Deus, durante trinta anos teve sob o seu governo Aquele Senhor que governa os céus e a terra. A maioria dos escritores e a tradição nos dizem ter sido o feliz trânsito de São José em 19 de Março. Alguns escritores afirmam ter morrido o Santo Patriarca em Jerusalém, onde foi para celebrar a Festa da Páscoa. E concluem da sepultura do santo no vale de Josafá. Poder-se-ia responder que, pela Escritura, sabemos de muitos santos personagens mortos em um lugar e sepultados em outro, muito distante. Todavia, são conjeturas inúteis.
São Jerônimo, o Venerável Beda e Suarez dizem ter sido o corpo de São José sepultado em um lugar atrás da montanha de Sião e no Jardim das Oliveiras, no mesmo túmulo onde mais tarde seria sepultada a Virgem Santíssima.
2.° - COMO FOI A MORTE DE SÃO JOSÉ?
Ainda havemos de recorrer à tradição. Nas igrejas do Oriente, no dia 19 de Março, nos primeiros séculos, cada ano, diz Isidoro de Isolanis, se costumava ler com toda a solenidade, ao povo, uma piedosa narração da morte de São José. O bispo dava a bênção, sentava-se em meio da assembleia e ordenava ao leitor fizesse, em voz alta, a leitura da piedosa narração seguinte:
“Eis chegado para São José o momento de deixar esta vida. O Anjo do Senhor lhe apareceu e anunciou ter chegado a hora de abandonar o mundo e ir repousar com seus Pais. Sabendo estar próximo o seu último dia, quis visitar pela última vez o Templo de Jerusalém, e lá pediu ao Senhor que o ajudasse na hora derradeira. Voltou a Nazaré e, sentindo-se mal, recolheu-se ao leito. E dentro em breve o seu estado se agravou. Entre Jesus e Maria, que o assistiam carinhosamente, expirou suavemente, abrasado no Divino Amor. Oh! morte bem-aventurada! Como não havia de ser doce e abrasada no Divino Amor, a morte daquele que expirou nos braços de um Deus e da Mãe de Deus? Jesus e Maria choravam ao fecharem os olhos de José. E como não havia de chorar Aquele mesmo Jesus que choraria sobre a sepultura de Lázaro? Vede como Ele o amava! disseram os judeus. José não era tão só um amigo, mas um Pai querido e santíssimo para Jesus”.
Gerson acrescenta que Jesus preparou para a sepultura o corpo virginal de seu Pai adotivo, cruzou-lhe as mãos no peito e o abençoou, para que não se corrompesse no sepulcro.
Eis aí o que podemos saber, pela tradição, da morte de São José.
A Igreja canta no Ofício litúrgico de 19 de Março, confirmando a tradição: “O nimis felix, nimis ó beatus, cujus extremam vigiles ad horam, Christus et Virgo simul astiterunt ore sereno!” – Ó, mil vezes feliz e bem-aventurado aquele que na hora extrema teve junto de si Cristo e a Virgem!
EXEMPLO
A graça de uma boa morte
Um pároco de Munster (Westphalia) ia se deitar, quando batem à porta do presbitério. Era um desconhecido que lhe pedia fosse com urgência a uma determinada casa indicando nome, número e circunstâncias da enferma a que deveria com urgência administrar os últimos sacramentos.
Imediatamente o zeloso sacerdote foi à matriz, tomou o Santo Viático, a maleta dos enfermos e, em poucos instantes, batia à porta da casa indicada. A família se surpreende.
- Que significa, sr. padre, a visita de v. revma. a esta hora da noite e à procura de uma doente?
- Sim, chamaram-me nestes poucos minutos indicando-me exatamente o nome da enferma, rua e número da casa. Veja esta notazinha aqui.
E mostrou as anotações.
- É verdade, respondeu um moço, é o nome de minha mãe. Ela porém está boa de saúde, nada sente. Acaba de subir para se deitar. Estivemos conversando até agora.
Alguém opinou:
- Há um mistério nisto e me sinto impressionado.
O moço imediatamente sobe a escada, a fim de participar à mãe o fato.
- Meu filho! meu filho! gemem de dentro do quarto. Empurra depressa a porta, meu filho!
Aflito, o moço entra e vê a mãe estendida no chão. Um mal súbito a acometeu e sentia-se gravemente enferma.
- Meu filho, sinto que vou morrer. Antes de mais nada, chama-me um sacerdote e que me traga o Viático. Eu morro...
O padre sobre, confessa, administra a Extrema-Unção e o Viático à enferma. Admirado por tamanha coincidência e o misterioso chamado, pergunta:
- Senhora, não sei como explicar minha presença aqui, neste instante. Tem alguma devoção, ou pedia sempre a Nosso Senhor esta graça?
- Sim, meu padre, replica logo com ardor a enferma, sim; durante longos anos sempre pedi a São José que me alcançasse esta graça, a graça de não morrer sem os sacramentos, a graça de uma boa morte. E alcancei-a! Ó, meu São José, eu vos agradeço!
E, chorando de gratidão, a velhinha expirou logo depois.
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